Na coluna passada abordei a atividade física para as crianças e a necessidade de uma prática salutar para o desenvolvimento harmonioso destas. Hoje pretendo aprofundar sobre a prática esportiva na iniciação. Qual a finalidade de uma prática organizada e o perigo de uma especialização precoce?
A iniciação esportiva é quando a criança começa uma prática sistemática de um ou mais esportes. Ela serve para que a criança tenha uma maior possibilidade de desenvolver seus gestos, ações e vocabulário motor, quanto maior esse vocabulário, melhor o desenvolvimento psicomotor, maior percepção espaço-temporal e mais habilidades elas terão para diversas práticas esportivas, bem como o desenvolvimento das questões cognitivas, além do prazer de praticar uma modalidade esportiva que goste.
Cada esporte tem suas características específicas e a idade para o início não será a mesma, para que a criança inicie em um esporte é fundamental que ela esteja apta e desenvolvida para uma boa prática e evolução. Neste momento da vida delas é fundamental ter profissionais capacitados e qualificados para trabalhar o desenvolvimento desta, mais do que o conhecimento do esporte em si.
Saber lidar, como proceder, como fazer com que se tenha a atenção das crianças na prática, trabalhar valores cooperativos, além de proporcionar o prazer pela prática da modalidade e criar treinos que vão respeitar e proporcionar o desenvolvimento harmonioso destas é função de todo bom profissional.
A vida esportiva das crianças deve ser semelhante à vida escolar, ou seja, em cada idade, a criança está apta para aprender determinados assuntos e não trabalhá-los nos momentos certos pode ser prejudicial.
A especialização precoce é quando acontece a aceleração de etapas, com o objetivo de atingir melhores resultados (momentâneos), trabalhar questões físicas em momentos impróprios, reproduzir trabalhos realizados para faixas etárias maiores, sem levar em conta a real situação do desenvolvimento motor das crianças.
Isso resulta em um menor desenvolvimento harmonioso, podendo gerar deficiências que não serão corrigidas, gerar mais tensão e pressão, pois trabalham aspectos mais exigentes que os ideais para o momento.
Imagine que como foi dito, o treinamento da criança é como a vida escolar, dos 6 aos 20 anos(período de iniciação e formação de atletas de futebol) as crianças passarão por etapas que as farão evoluir, alguns mais que os outros, no final muitos não serão atletas, mas terão evoluído bastante para a vida.
A especialização precoce é como se a criança trabalhasse desde o início nas fases mais finais do processo, muitas crianças suportam isso até uma idade, depois perdem o gosto e o prazer pelo esporte e desistem. Muitos desses com grande potencial de se tornarem profissionais.
Muitas vezes essa especialização vem por pressão dos professores, outras vezes dos pais, e isso é muito comum. Os pais enxergam na criança a chance de chegar onde eles queriam ter chegado no esporte e as forçam a isso, já os professores buscam no desenvolvimento destas crianças uma projeção na carreira.
Vejo muitos jogadores de 13,14 e 15 anos com uma rotina de profissional, talvez neste momento estejam em condições superiores do que outros que estão em um processo organizado e sistemático. Mas lá na frente quando o desenvolvimento nivelar, provavelmente o mais preparado será o melhor trabalhado, com menos carências, se comparado com quem se especializou muito cedo no processo.
Portanto, quando tratamos de desenvolvimento de crianças e adolescentes não podemos pensar num resultado momentâneo, imediato e pulando etapas neste processo. O trabalho neste período de desenvolvimento e motor deve ser bem planejado, estruturado e desenvolvido para que estes jovens tenham uma evolução constante e plena e assim pensando numa carreira esportiva profissional estarão bem mais desenvolvidos no momento certo que realmente fará a diferença.
Abraço!
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* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do FUT.SC |
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